Tudo! Nada!

2.6.07

O texto a serguir nasceu de um sonho. Não desses sonhos de principezinhos encantados, nem de princesas que viram plebéias . Mas sim de um sonho que eu tive a noite passada. Sonhei que eu estava preocupado com Angra 3, uma usina nuclear. No fundo, eu queria me preocupar com usinas nucleares, e com a invasão da reitoria da USP. Queria sentir emoção por quem perdeu o emprego na RCTV, na Venezuela de um Chavez paspalhão...
Pensei que eu não fosse mais escrever nenhum texto. Eu tento levar como lema o seguinte: ser fiel à minha própria vontade. Isso me define. Me cerca e me deixa expandir, na medida exata. Pode ser que eu não consiga, ou que consiga ser parcialmente. Mas esse é o caminho; e o caminho é conhecido. O que eu quero dizer é: escrevo quando e como quero; não escrevo quando e como não quero.
O querer é inexplicável. Mas existe.

Pensei que não fosse escrever mais nenhum texto. Mas acabo descobrindo que os textos estão escritos, antes que eu os passe para o papel. Os textos são escritos simultaneamente, incessantemente, em todas as partes do mundo. Enquanto você lê esse meu texto, está escrevendo outro em sua mente. Mesmo que você nunca escreveu a emoção (ou a falta dela) ao ler meu texto, você escreveu um texto... em sua mente. Os textos não são escritos pelos escritores; são apenas traduzidos por ele. Quem os escreve é o desconhecido. Sei que tem muito babaca por aí que não acredita nisso. Tem gente que acredita em todas as mentiras professadas pela ignorância do mundo. É difícil a gente acreditar na verdade nua e crua. Na maioria das vezes, a gente acredita é no que foi inventado e não tem fundamento. A gente acredita nas aparências. Isso é tudo verdade. Não é papo de mulher mal amada.

Eu achava que as pessoas que agiam querendo ser diferentes é que eram de fato diferentes. Hoje, acredito quando dizem que todo mundo é só "aparência"; só não acredito quando agem fingindo que não, que não é tudo aparência. A maioria conhece teoricamente os caminhos certos, mas trilha pelos errados. 99%. Agora, acredito na simplicidade de tudo o que é tido como "certo". De fato, conhecemos, teoricamente, os valores reais. Praticamente, não conhecemos. É assim mesmo. Aquelas canções do brega José Augusto, do Fábio Jr. , do Maurício Mattar, estão certas.

Onde está escrito que para escrever um texto, ele tem de ser grafado? Eu escrevi um texto em minha mente e não contei para ninguém.

Fico feliz por não ter sido levado por nenhuma onda da vida. Eu continuo assistindo a tudo sentado numa pedra, sozinho. Eu não virei doutor, nem me casei com a mulher mais bonita; não saí candidato a governador, não comprei um apartamento. Não comi 50 mulheres, nem me importo com o caso do presidente do Senado. Eu não recebi a medalha do comendador da Puta que o pariu, nem escalei o Everest. Não uso Nike Shox, nem me fantasio de Matrix pra sair que nem um louco na rua.

Ninguém sabe, nem nunca saberá o que se passa em minha mente. Ninguém vai acreditar, por mais sincero que eu seja, quando contar. Também, não me importa contar. Não consigo levar tudo tão a sério quanto todo mundo leva. Não consigo acreditar 100% em nada, nem em mim mesmo; mas não consigo duvidar 100% em nada, nem em mim mesmo. Não consigo ficar puto de verdade, porque a verdade não existe pra mim. Acaba sendo tudo um teatro. A única verdade é um espetáculo. Eu to sentado numa cadeira, consciente que é tudo teatro.

Acho que vou morrer procurando motivos para acreditar que alguma coisa pode ser séria. Falo sério. Não acredito que as coisas significam tudo o que elas parecem. Eu percebo que o que falo, às vezes soa, e é, incompleto. Na verdade, eu pressuponho que saibam das minhas intenções; e percebo que as pessoas têm necessidade de saber do óbvio. E eu, por inabilidade qualquer que seja, não consigo dizer o óbvio. E não me importo em não dizer o óbvio. Que se exploda o óbvio, lá em Angra 3. O meu medo, a minha impotência, a minha sabedoria, a minha inteligência. A minha esperteza e a minha bobeira... no fundo, é tudo a mesma coisa, como uma receita de bolo batendo na batedeira pra ir ao forno depois. O "eu" de verdade, está do lado de fora da batedeira. Eu to olhando isso tudo, inerte, inabalado, só avaliando os dados dessa experiência.

Há até um tempo atrás, eu pensava que o grande desafio da vida, seria eu descobrir e revelar à humanidade, algo que eu tenha descoberto de novo. Algo como o cara que inventou a televisão, ou o automóvel, ou o avião... Se eu tivesse a sorte de ser um deles, aí sim, eu tava feito! Mas não! Não é bem assim. Nada disso! Seria indiferente ser ou não um deles. Talvez um professor de matemática já saiba muito mais que o inventor do avião. Talvez uma dançarina do Sayonara enxergue mais longe que um astronauta. Ou talvez um astronauta enxergue mais longe. Talvez.

Acredito que pode ser o destino o responsável por fazer um homem ter idéias mirabolantes. Pode ser alguma força do "além"; ou pode ser simples "acaso".

Mas a grande descoberta que fiz nos últimos tempos, é que o importante da vida, é descobrir o que é "novo para mim", mesmo que a minha "novidade" seja a coisa "mais velha" pra toda a humanidade.

Quando eu nasci, a roda já existia para o mundo. Mas para mim, a roda só existiu a partir do momento em que tomei conhecimento.

O outro lado da moeda, é que o mundo me desconhece. Eu sou a própria novidade, à medida que me descubro. E o "eu" que conquistou uma "nova descoberta individual" é um novo "eu". Pouco importa a natureza dessa descoberta pro resto do mundo.

Assim, um neném que pronuncia a sua primeira palavra, acaba modificando o mundo, sim.

Só que antes, eu acreditava que a pessoa tinha que modificar o mundo para ser expressiva. Hoje, a idéia tomou sentido contrário na minha mente. A pessoa que modifica a si mesma, provoca, de forma inexorável, mudança no mundo; porque ela é parte do mundo.

Apesar de tudo o que foi exposto aqui, continuo com um dos principais dilemas que me perseguem: na maioria do tempo, não vejo razão para nada. Não vejo razões para conversar, nem manter conversas. Não vejo razões para invenções, nem beijos na boca. Não vejo intenção interessante nas políticas de manutenção da vida humana. Isso não me faz um idiota com tendências suicidas, pois não vejo razão nos que põem termo à própria vida. Um churrasco, uma cerveja, uma mulher... É preciso acreditar nisso tudo.

Eu imagino o que o "apertar de um botão" em Angra 3 poderia causar. Pra ser sincero, não sei se pararam em Angra 2 ou se a 3 já existe... Me ocorreu agora questionar a razão de as pessoas apostarem no jogo do bicho. Muitos matam, morrem, são presos, se exaltam e etc., pelo jogo do bicho. Existe coisa mais surreal do acreditar nisso?

Eu penso nos pijamas e nos ternos e gravatas. Sei que ninguém acredita de forma tão veemente quanto eu na força simbólica dos pijamas e dos ternos e gravatas. Mas é chocante como todo mundo engole esses símbolos tão facilmente, sem questionar, sem elogiar, nem condenar. A dureza, a rigidez do pensamento dessas 2 vestes, que foram usadas como exemplo nesse texto, são de me chamar a atenção.

Estou tranquilo, apesar do mar de pensamentos que me toma a mente. Encontrei uma ciência pra me divertir. Tudo que preciso pra isso é a minha mente e meu tempo. Que pretensão dizer "meu tempo"? O tempo não tem dono. É tudo só um passatempo. De chocolate. Um biscoito.