Tudo! Nada!

18.3.03

MÁSCARAS:

Quem é que nunca viu ou ouviu falar sobre um baile de máscaras? Quem nunca usou uma máscara na vida, ainda que em festas carnavalescas, ou outras em que o uso desse adereço fosse oportuno?
Todos usamos máscaras na vida. E não as usamos apenas em festas, ou acontecimentos extraordinários, pasmem! As máscaras são adornos presentes no nosso cotidiano, mas as vezes não notamos sua presença, por elas não se apresentarem em sua forma convencional, qual seja, aquele objeto que tapa o rosto da pessoa.
Agora imagino que você já entenda o que estou querendo dizer: sim, máscaras são os artifícios os quais visam, de certa forma, ludibriar o entendimento de terceiros a partir da imagem a qual emitimos. Melhor explicando: por máscaras, nesse texto, entenda-se a ação de transmitir uma falsa realidade a um semelhante, por qualquer meio ou forma. As máscaras visam, dentre outras finalidades, deturpar a impressão que os outros têm do “mascarado”.
As pessoas vivem num eterno carnaval. A vida é um imenso e constante carnaval, e o que muda é apenas o “samba-enredo”. Por exemplo, me lembro de uns dias atrás, quando eu estava de férias. Meu ritmo de vida era outro, completamente diferente do que eu enfrento agora, já que o ano letivo se iniciou. Mencionei esse exemplo para mostrar que tudo é o carnaval, e as mudanças, são as canções mais propícias a cada ocasião. Agora começo a falar sobre as máscaras.
Bastou-me retornar às aulas, ou seja, voltar a conviver com um contingente mais substancial de criaturas humanas, para que eu começasse a refletir novamente. Cada um é um teatro, embora cada um seja nada mais, nada menos, do que... cada um! Cada um se esconde, ou se protege, atrás da “capa”, justamente como o “Conde Drácula” na canção “Eu nasci há 10.000 anos atrás”, do genial Raul Seixas. Há pessoas que se escondem por trás de um sorriso. Há, portanto, sorrisos que podem ser máscaras. Há criaturas que se protegem pela educação, sendo polidas no jeito de se tratar, e esperando ganhar o mesmo dos outros; existem também criaturas que ostentam em suas “fachadas” jóias, roupas da moda, carrões do ano passado, óculos sem grau algum, e, enfim, há muitos tipos de pessoas, com sortidos tipos de máscaras. Até existem máscaras que podem ser positivas para o convívio humano. É o caso de feras sob pele humana que aprendem a controlar seus instintos, mesmo que por fim artificial. Também devem constar aqui, eu ia me esquecer, as pessoas que se escondem atrás de títulos, ora! (Como eu poderia deixá-los de fora)? É por isso que as vezes deixamos de ser nós mesmos, e isso torna o mundo muito chato! Há seres que não são “nada” sem seus títulos, escudos, emblemas, condecorações.
O carro do ano, o título de “melhor doutor do mundo” com formação na Capadócia, a perfumaria francesa, as roupas de grife, as divisas de comandante num uniforme, o dinheiro, a petulância idiota, são apenas “pseudo-barreiras” para que alguém se mostre impenetrável! O Dr. Fulano chega em casa cansado, e na casa dele falta água para tomar banho; a menina que tem roupas de grife fica suando e, à noite, quando chega em seu lar, tem de lavar essa roupa, porque o cheiro de seu “sovaco” é insuportável, e o efeito do perfume francês não perdura mais; o dinheiro dos ricos compra mais pão para o lanche à noite, e também um presunto de melhor qualidade, assim como a manteiga, mas não garante que a conversa à mesa será das mais agradáveis; as jóias enfeitam as balzaquianas belas que desfilam suas curvas pelas quinas dos cruzamentos das ruas, mas essas jóias não injetam educação nem carisma em suas veias tão frágeis quanto às minhas. Isso tudo acontece o tempo todo, e isso tudo são máscaras, embora haja uma infinidade de artifícios que seria inviável citar aqui, dada a extensão deste texto. Entretanto, nem todas as máscaras são de plástico, e nenhuma máscara tem um objetivo realmente importante para as nossas vidas.
E digo mais: se as máscaras existem, é para esconder dos outros alguma realidade a nosso próprio respeito. Daí, num pensamento lógico, concluímos que, se uma realidade deve ser escondida, é porque ela nos frustra, nos envergonha, ou então nos revela realmente comuns, exatamente como a maioria. Poucos são os comuns que se aceitam comuns. Esses comuns (que se aceitam comuns), são, por isso, a meu ver, especiais! São os desmascarados do apocalipse contemporâneo, que é o baile da vida.
Mas máscaras caem. Tudo o que é postiço, um dia cai. As dentaduras caem (só as mal colocadas); as máscaras de carnaval caem, na hora da ressaca; as aparências enganam. Na verdade, nós “somos apenas quem podemos ser”, nada além disso! Mas sonhos, nós podemos ter. É por aí que se pode tratar do assunto. As máscaras “encarnam” os sonhos, já cantados pelos proféticos “Engenheiros do Hawaii”, (na música intitulada “Somos quem podemos ser”).
Um dia provavelmente perceberemos o quão tolos fomos por ter escondido-nos dos outros, e por isso de nós mesmos. Deixaremos as máscaras caírem, se espatifarem no chão, se partindo em mil pedaços, para que outrem recolha os fragmentos, com o intuito de construir outra máscara. Chocaremos a todos num futuro, e nos chocaremos também, diante do espelho, por vermos a realidade, nua e crua. Iremos parar de “interpretar” a obra prima “O teatro de minha vida”, para nos tornar realmente protagonistas dos acontecimentos reais do desenrolar dos fatos que nos compõem, aqueles que se desdobram, nos proporcionando ser agentes de nossa realidade. Um dia seremos ainda enganados pelas máscaras dos nossos colegas do mundo, também mascarados. E também deles as máscaras cairão, cedo ou tarde, como num final de filme “hollywoodiano”, num ciclo que a vida reserva para todos. Enquanto isso, devemos fingir acreditar na festa, ou melhor, no baile de máscaras... Ou podemos tirá-las, se estivermos por demais cansados! Fiquem a vontade.
As máscaras apenas enganam. E enganar-se, é como pegar um desvio na estrada rumo à felicidade, que mora na rodovia do mundo real. Atalhos existem. Mas embora sejam convidativos, são falhos, e não proporcionam segurança alguma ao viajante. Tirar a própria máscara, é assistir a alvorada no paraíso! Então, basta pensar qual o melhor caminho... No fundo, todos nós sabemos. Por último, deixo uma indagação: para que se fantasiar de “Mickey”, se você é, na realidade, um “Pateta”! (Por favor, não fique “Pluto” comigo)!

EXISTENCIALISMO:

Tudo o que existe é! Sim, uso “é” como verbo intransitivo aqui, de forma proposital. “É”, por aqui, significa “existir”. Caímos então, numa redundância completamente prevista por mim, ao iniciar a escrever esse texto. Eu poderia explicar a afirmativa da seguinte maneira: “tudo o que nos cerca no mundo material e também no campo dos pensamentos, existe”. Ora, isso pode parecer óbvio, mas tudo o que parece claro e lógico pode ser um dogma. Pense um pouco, e repare que de lógico no mundo não há nada; o que acontece, é que aceitamos coisas que nos são demonstradas.
Para as crianças, por exemplo, nada é lógico. Por isso, elas nos perguntam tantas coisas, que parecem ter respostas simples. Quero afirmar aqui, que os pensamentos são seres. Não ousaria eu questionar se pensamentos são seres vivos ou não, embora isso para uma outra pessoa possa parecer ridículo. Não tenho a resposta para isso. Uma pedra é um ser, que nos conceitos que tenho a respeito do mundo, posso chamar de inanimado. Tudo o que existe, portanto, pode ser denominado de um “ser” qualquer. Há seres animados, seres inanimados, seres vivos, seres mortos, e seres vivos com caras de mortos, dentre uma infinidade tremenda de seres pelo universo. O próprio nada, que é tudo aquilo que preenche o que não sabemos explicar, é um ser por excelência. Raciocine: o nada existe, mesmo que ele seja composto pela ausência de qualquer coisa.
Não acredito nas baboseiras que me dizem a respeito da vida e seus acontecimentos. Detesto “esquematizar” o imprevisível. Não quero que me provem que a vida, os fatos, e que tudo o que me cerca é cíclico, não sou tão idiota assim. Se usarmos receitas para viver a vida, como usamo-nas para cozer um bolo, certamente morreremos de indigestão acirrada!
O tempo, cuja natureza (ignoro se o tempo é um ser!) não sei explicar, muda tudo. Ou então, é tudo que muda com o tempo, por coincidência. Mas isso não me interessa saber. Os seres mudam durante sua existência, e isso é fascinante. Por isso afirmei, no parágrafo anterior, que acreditar em ciclos é pura perda de tempo. Os seres são o desenrolar de suas próprias histórias, compostas por cada realidade, que forma o todo. Uma pedra que rola de uma montanha se transforma a cada queda. O início de uma trajetória descendente da pedra pode ser oriundo das forças de um vendaval, ou de um terremoto fortíssimo, por exemplo. Daí, conclui-se que houve outras transformações no mundo. Ou folhas caíram, ou o solo rachou com o tremor, etc.
Com os pensamentos, não é diferente. Os pensamentos podem até ocupar algum espaço físico, com matéria invisível, em outro plano, por exemplo. Sei que hoje, isso está fora do meu alcance de entendimento. Entretanto, sei que os pensamentos se transformam numa velocidade digamos “escalar”, diferente das modificações que percebemos no mundo físico, visível, ao qual hoje vivemos.
Nosso próprio planeta, que é apenas uma gota no oceano, se comparada ao resto do cosmos, também vive em constante mutação. O próprio tempo é um termômetro, que pelo simples fato de existir (ou pelo fato de acreditarmos que ele existe), modifica os seres. Pense: mesmo que nenhuma mudança ocorra em nossa existência, seja ela visual, ou de qualquer outra natureza, poderemos dizer que o tempo se passou. Com isso, aquela existência poderá ser chamada de mais velha, e isso é o suficiente para chamarmos de “modificação”.
Com isso, quero mostrar-lhes que modificação ocorre constantemente. Nada que possamos pensar é estático. Uma árvore centenária perde suas folhas no inverno, e gera novos frutos a cada determinada estação. A Terra está em incansável rotação, e o sol nos banha a cada dia. Uma montanha rochosa recebe a chuva de braços abertos, e estará sempre por lá, à espera do sol que virá depois. As estrelas vêm e vão a cada noite, que divide o tempo com o dia, que não é nada ciumento. Um poste ilumina, está sempre atento. Ele apenas está parando, mas sofre com o tempo, sente saudade dos carros que por ele passam, também.
Uma engrenagem não serve apenas para rodar. Ela é um elo que faz um “todo” funcionar bem, ela se gasta com o tempo, o trabalho. O vento transforma as coisas. Os fatos também transformam o pensamento. Os lugares transformam as pessoas. Os corpos das pessoas envelhecem com o tempo. Os pensamentos não envelhecem, eles ficam por aqui por mais tempo que nossos próprios corpos.
Agora, não venha me dizer que tudo isso são ciclos! Cada história é uma história singular. Cada ser tem uma realidade. Vivemos no desconhecido, e querer explicar tudo isso é um blefe. A vaidade não nos pode impedir de viver. A experiência é mais valiosa do que qualquer conhecimento. A palavra-chave é viver.