ANOS DOURADOS
Nessa noite eu tive muita inspiração. Eu conversei bastante sobre textos, conversei “bastante” sobre a vida, com o Ronaldo, o Giovanni, o Alan, o Cristiano, apesar de que, em se falando de vida, não há nunca um “bastante” para se conversar sobre. Eu me questionei; questionei meu potencial para escrever, me pus pra baixo, me puseram pra cima, me puseram pra baixo, também.
A gente estava num bar. Um bar vazio, desses típicos de uma rua deserta numa quinta-feira à noite, sem música ao vivo, e sem uma viva alma... A não ser que Wanderley estivesse por ali! Mas eu não estava sensitivo o bastante para saber. Fiquei imaginando e imaginando que aquele espaço poderia ser mesmo utilizado por casaizinhos de namorados em suas noites prodigiosas, antecedendo o nada para fazer que viria depois, que é o que sempre ocorre com todos os casaizinhos de namorados pelo mundo.
Conversa vai e conversa vem, Ronaldo, Giovanni e eu começamos a confabular sobre nossos textos. Os textos de um são mais isso, os textos do outro são mais aquilo... Eu logo pensei numa canção que diz que “a medida de amar, é amar sem medida”. A medida de escrever, é escrever sem medida, digo eu. E é. Nas entrelinhas, goles de cerveja bem regados, acompanhados muitas vezes de batatas fritas sequinhas, e, no meu caso, de torradas secas, já que eu não gosto daquele molho feio que estava lá na mesa. O importante é expressar os sentimentos, não importa o texto.
Acho que eu ando, andei ou andava muito preocupado com o formato que meus textos assumiriam, quando na verdade, meu maior objetivo não é esse. Eu quero escrever bem escrito, tenho vontade disso, de verdade. Quero mostrar a idéia, e não a moldura dela. Subi as escadas aqui de casa pensando nisso! Tenho que escrever com sentimento, borrando o papel com o sangue do meu coração.
Pois bem; voltemos ao bar. Uma cerveja lá, outra cá, e o Giovanni some. Some não, desaparece! E cervejas dão de presente para a gente, uma vontade irresistível de ir ao banheiro. Foi numa dessas minhas “idas” ao banheiro, que eu me deparo com o Giovanni numa mesa, com as únicas outras vivas almas que estavam no mesmo bar que a gente.
Um “Sean Connery” latino ali estava. Atendia pelo nome de Gilberto. Mas aqui no Brasil, ele dizia ser pintor; aliás, o sujeito se identifica com o que há de “Miró” na vida. O outro, um “Carlinhos Brown” juizforano, que inclusive toca percussão, discutiu o sentido da vida com a gente. (Eu acho que a vida tem mão e contramão)! Por último... (a gente sempre deixa o que é mais gostoso por último)! Uma mulher linda, a Ana. E o Giovanni, que logo hoje tinha me falado que eu “tinha que ser mais romântico”, jogou o sapo n’água! Eu acho que ele é romântico assim, por ter ouvido muito falar desse tal romantismo nos cds do Frejat. Eu acho esse Frejat, um Fábio Jr. da atualidade, mas... A Ana era linda.
E ela contou que quando tinha uns 26 anos... Quantos anos ela tem hoje? Não fui tão sincero para perguntar! Ela que estava ali, na mesa que o Giovanni invadiu, quietinha com o “Sean Connery”, fora indiretamente abordada por um outro intrometido, o João Paulo. Ela era linda para mim, só não era mais linda que sua própria voz. E ela (a Ana), foi a razão da minha curiosidade para parar naquela mesa. Eu perguntei se ela havia estudado para ganhar aquilo (a voz), ou se já nascera assim. Toninho, o “Carlinhos Brown”, disse que “já veio assim de fábrica”. E ela tinha uma voz de veludo, uma voz que massageia o ego dos seres mais feridos, dos que precisam mais de vozes, e menos de barulhos. Aquilo me fez sentir mais homem, me fez perceber que eu realmente existo ainda... Isso era uma das questões que a gente abordou ali na mesa, com pessoas desconhecidas: a existência.
O meu guru cósmico, Giovanni, sugeriu que em todos os bares do mundo, as pessoas pudessem se juntar assim, igual nós, invadindo as mesas alheias. Ronaldo logo apareceu e se atracou também por ali. A essas alturas, eu já me casaria com a Ana, de papel passado e tudo, porque ela disse que adorava sair com o povo dela, pra discutir a tal da filosofia. Eu, frágil, falava como um repórter. Sempre na necessidade de me expor, ficar na “carne viva” frente à sociedade que me vangloria, e que me condena, morde e sopra. Eu fiquei mais feliz, eu quis sentir o perfume “noir” no ar. De uma forma ou de outra, aquela Ana ali, naquele momento, me fez crer que ainda existem mulheres bacanas. Existem mulheres que são mais “gente” do que apenas “sexo oposto”. Ela era real? Até ali, sim. Ela era uma forma bela, desmanchando-se em meus pensamentos inúmeros que flechavam com emoção toda a minha racionalidade. Ela colocou “em xeque” meus conceitos, os quais eu acreditava serem verdadeiros até então, simplesmente por estar ali, na minha frente, perfeita.
Uma frase antológica, (e olha que eu não sou muito de frases feitas!), foi a do Toninho: “a gente tem que comer um bife, pensando mais que aquilo é carne, ao invés de proteína”! Aquilo me valeu o papo, me valeu a noite.
Os estranhos me foram valiosos. A mulher fez meus olhos dançarem um balé bonito, só por causa das curvas dela. Mas fez meus pensamentos fazerem curvas, só por causa dos olhos dela. Ah, sim! Eles brilhavam, era isso que eu queria dizer. Eu estava com mais medo de dizer o que eu pensei, mas agora tudo já se foi, eu sei. Sei que ela se foi, com o tempo, e só o tempo dirá se ela volta, se ela fica, ou se ela... sei lá! Esse título “Anos dourados”, é em homenagem a ela, que perguntou porque eu iria escrever um texto chamado “Anos dourados”: “é sobre os seus anos dourados?” Eu disse que o passado é um produto já pronto, e por isso ele é bonito, ele já vem embalado, é industrializado. Eu percebi no sorriso dela, que ela foi com a minha cara, e que, se não fosse o “Sean Connery”, eu estaria “à caça de meu Outubro Vermelho”, no mar de amor que ela parece guardar em si.
Estou cheio de minhas discussões sobre o futuro. Eu até acredito no amor, essa noite. Uma mulher daquelas, pintada pela minha mente como a mais bela das obras de “Miró”, seria capaz de incorporar o amor. E eu, que nem conheço “Miró”, nem sei como se escreve “Miró”! Se fosse Picasso, eu não gostaria. Eu seria o bife dela, e não a proteína. Isso eu espero do mundo. Amanhã porém, vou acordar. Vou voltar a ser real, como sou quase todo dia. É aí que mora o perigo, no penhasco que leva à realidade. No meio do caminho, eu dou uma parada na surrealidade. Onde vou parar? São anos dourados, horas douradas, minutos dourados!
Nessa noite eu tive muita inspiração. Eu conversei bastante sobre textos, conversei “bastante” sobre a vida, com o Ronaldo, o Giovanni, o Alan, o Cristiano, apesar de que, em se falando de vida, não há nunca um “bastante” para se conversar sobre. Eu me questionei; questionei meu potencial para escrever, me pus pra baixo, me puseram pra cima, me puseram pra baixo, também.
A gente estava num bar. Um bar vazio, desses típicos de uma rua deserta numa quinta-feira à noite, sem música ao vivo, e sem uma viva alma... A não ser que Wanderley estivesse por ali! Mas eu não estava sensitivo o bastante para saber. Fiquei imaginando e imaginando que aquele espaço poderia ser mesmo utilizado por casaizinhos de namorados em suas noites prodigiosas, antecedendo o nada para fazer que viria depois, que é o que sempre ocorre com todos os casaizinhos de namorados pelo mundo.
Conversa vai e conversa vem, Ronaldo, Giovanni e eu começamos a confabular sobre nossos textos. Os textos de um são mais isso, os textos do outro são mais aquilo... Eu logo pensei numa canção que diz que “a medida de amar, é amar sem medida”. A medida de escrever, é escrever sem medida, digo eu. E é. Nas entrelinhas, goles de cerveja bem regados, acompanhados muitas vezes de batatas fritas sequinhas, e, no meu caso, de torradas secas, já que eu não gosto daquele molho feio que estava lá na mesa. O importante é expressar os sentimentos, não importa o texto.
Acho que eu ando, andei ou andava muito preocupado com o formato que meus textos assumiriam, quando na verdade, meu maior objetivo não é esse. Eu quero escrever bem escrito, tenho vontade disso, de verdade. Quero mostrar a idéia, e não a moldura dela. Subi as escadas aqui de casa pensando nisso! Tenho que escrever com sentimento, borrando o papel com o sangue do meu coração.
Pois bem; voltemos ao bar. Uma cerveja lá, outra cá, e o Giovanni some. Some não, desaparece! E cervejas dão de presente para a gente, uma vontade irresistível de ir ao banheiro. Foi numa dessas minhas “idas” ao banheiro, que eu me deparo com o Giovanni numa mesa, com as únicas outras vivas almas que estavam no mesmo bar que a gente.
Um “Sean Connery” latino ali estava. Atendia pelo nome de Gilberto. Mas aqui no Brasil, ele dizia ser pintor; aliás, o sujeito se identifica com o que há de “Miró” na vida. O outro, um “Carlinhos Brown” juizforano, que inclusive toca percussão, discutiu o sentido da vida com a gente. (Eu acho que a vida tem mão e contramão)! Por último... (a gente sempre deixa o que é mais gostoso por último)! Uma mulher linda, a Ana. E o Giovanni, que logo hoje tinha me falado que eu “tinha que ser mais romântico”, jogou o sapo n’água! Eu acho que ele é romântico assim, por ter ouvido muito falar desse tal romantismo nos cds do Frejat. Eu acho esse Frejat, um Fábio Jr. da atualidade, mas... A Ana era linda.
E ela contou que quando tinha uns 26 anos... Quantos anos ela tem hoje? Não fui tão sincero para perguntar! Ela que estava ali, na mesa que o Giovanni invadiu, quietinha com o “Sean Connery”, fora indiretamente abordada por um outro intrometido, o João Paulo. Ela era linda para mim, só não era mais linda que sua própria voz. E ela (a Ana), foi a razão da minha curiosidade para parar naquela mesa. Eu perguntei se ela havia estudado para ganhar aquilo (a voz), ou se já nascera assim. Toninho, o “Carlinhos Brown”, disse que “já veio assim de fábrica”. E ela tinha uma voz de veludo, uma voz que massageia o ego dos seres mais feridos, dos que precisam mais de vozes, e menos de barulhos. Aquilo me fez sentir mais homem, me fez perceber que eu realmente existo ainda... Isso era uma das questões que a gente abordou ali na mesa, com pessoas desconhecidas: a existência.
O meu guru cósmico, Giovanni, sugeriu que em todos os bares do mundo, as pessoas pudessem se juntar assim, igual nós, invadindo as mesas alheias. Ronaldo logo apareceu e se atracou também por ali. A essas alturas, eu já me casaria com a Ana, de papel passado e tudo, porque ela disse que adorava sair com o povo dela, pra discutir a tal da filosofia. Eu, frágil, falava como um repórter. Sempre na necessidade de me expor, ficar na “carne viva” frente à sociedade que me vangloria, e que me condena, morde e sopra. Eu fiquei mais feliz, eu quis sentir o perfume “noir” no ar. De uma forma ou de outra, aquela Ana ali, naquele momento, me fez crer que ainda existem mulheres bacanas. Existem mulheres que são mais “gente” do que apenas “sexo oposto”. Ela era real? Até ali, sim. Ela era uma forma bela, desmanchando-se em meus pensamentos inúmeros que flechavam com emoção toda a minha racionalidade. Ela colocou “em xeque” meus conceitos, os quais eu acreditava serem verdadeiros até então, simplesmente por estar ali, na minha frente, perfeita.
Uma frase antológica, (e olha que eu não sou muito de frases feitas!), foi a do Toninho: “a gente tem que comer um bife, pensando mais que aquilo é carne, ao invés de proteína”! Aquilo me valeu o papo, me valeu a noite.
Os estranhos me foram valiosos. A mulher fez meus olhos dançarem um balé bonito, só por causa das curvas dela. Mas fez meus pensamentos fazerem curvas, só por causa dos olhos dela. Ah, sim! Eles brilhavam, era isso que eu queria dizer. Eu estava com mais medo de dizer o que eu pensei, mas agora tudo já se foi, eu sei. Sei que ela se foi, com o tempo, e só o tempo dirá se ela volta, se ela fica, ou se ela... sei lá! Esse título “Anos dourados”, é em homenagem a ela, que perguntou porque eu iria escrever um texto chamado “Anos dourados”: “é sobre os seus anos dourados?” Eu disse que o passado é um produto já pronto, e por isso ele é bonito, ele já vem embalado, é industrializado. Eu percebi no sorriso dela, que ela foi com a minha cara, e que, se não fosse o “Sean Connery”, eu estaria “à caça de meu Outubro Vermelho”, no mar de amor que ela parece guardar em si.
Estou cheio de minhas discussões sobre o futuro. Eu até acredito no amor, essa noite. Uma mulher daquelas, pintada pela minha mente como a mais bela das obras de “Miró”, seria capaz de incorporar o amor. E eu, que nem conheço “Miró”, nem sei como se escreve “Miró”! Se fosse Picasso, eu não gostaria. Eu seria o bife dela, e não a proteína. Isso eu espero do mundo. Amanhã porém, vou acordar. Vou voltar a ser real, como sou quase todo dia. É aí que mora o perigo, no penhasco que leva à realidade. No meio do caminho, eu dou uma parada na surrealidade. Onde vou parar? São anos dourados, horas douradas, minutos dourados!