Tudo! Nada!

9.6.02

A mulher ideal
É aquela que eu nunca quero
Conhecer.
É aquela que só existe na imaginação

Portanto, tê-la,
Seria aturar a própria solidão.
E a solidão é uma companhia
Desleal.

Estranho como a solidão
É tão ruim, mas se assemelha
À sonhada mulher ideal.

A mulher ideal reclama do meu bafo de manhã.
Ela me entrega as roupas mal passadas
E ainda me convence que está bom.
Me faz passar vergonha e agradecer,
Me dá conforto ao anoitecer.

Mesmo quando não tenho tempo
Ela arranja tempo pra nós.
Mesmo no meio de uma multidão,
Ela é sincera como se estivéssemos a sós.

A menina existe dentro da mulher,
E, na verdade, a mulher veio da menina.
Ela é uma velha no carinho,
Um bebê na segurança,
E um amor dentro de casa.

A mulher ideal esquece-se
Que eu não gosto de feijão.
Me oferece café, quando eu
Só gosto de Coca-Cola.

A paciência é um exercício
Do saber.
O saber é o pai da paciência,
Mesmo na hora do "rush".

Da mulher ideal eu sou o filho,
O irmão e o marido.
E ela pra mim é o tudo, o vazio,
O sim, e o não.


A mulher ideal só reclama
Quando eu me esqueço de
Comprar o pão.
E talvez seja por isso que a mulher
Ideal não se chama Perfeição.